São 2.882.291 quilômetros e quase mil destinos. Essa é a estatística formada pelos carimbos no passaporte do americano Charles Veley, 46 anos, milionário precoce que se tornou o maior viajante do planeta.
Título, aliás, que perseguiu como quem se dedica a uma carreira de
sucesso: com uma planilha de Excel na mão e investimentos de US$ 2
milhões, Veley passou a década de 2000 passeando por aí como um bon
vivant sistemático. “Meu foco é cumprir metas. Por um lado, viajar é
diversão. Por outro, uma lista de afazeres”, diz. Em 2004, ele apareceu
no livro Guinness World Records por ter visitado 70 países em 3 anos.
Àquela altura, já conhecia as 193 nações que integram a ONU. Logo fundou seu próprio clube de viajantes, o Most Traveled People (Pessoas
mais viajadas), hoje com 12 mil sócios. Até agora, ninguém bateu o
recorde de Veley. Afinal, de acordo com suas contas, ele já visitou 827
territórios, repúblicas, províncias, federações, ilhas, estados
rebeldes, estados independentes e enclaves do mundo. Faltam apenas 45
locais para Veley dizer que rodou o planeta todo. “Meu destino preferido
é sempre o próximo.”
Nos anos 90, Veley fundou uma companhia de software que chegou a
valer US$ 24 bilhões. Com tanta grana à vista, saiu em um período
sabático. Seriam alguns meses, que viraram 10 anos. Primeiro, ele
comprou duas passagens de volta ao mundo — estava casado e, nesse meio
tempo, se tornou pai de 3 filhos e se separou.
Mas nem sempre a vida foi de passeios. Até os 20 anos, esse
nova-iorquino nascido e criado no Brooklyn nunca tinha saído dos EUA,
até que foi passar férias com os pais na Espanha. Porém, foi quando
fracassou no intento de se tornar piloto de caça, que o mundo se abriu.
Veley decidiu se dar um prêmio consolo: um mochilão de 3 meses pela
Europa. “Descobri que era fascinado por geografia, cultura, história,
pessoas e novas experiências”, diz. Passou, então, a viajar sempre que
podia. Depois, com o sabático, só fazia isso. Voou com cerca de 100
companhias aéreas comerciais, e também embarcou em expedições
científicas, aviões militares e navios de carga.
Das viagens, o andarilho coleciona histórias como a vez em que nadou
para a ilha de Clipperton,possessão francesa a 1.280 km do México, no
oceano Pacífico. Depois de 4 dias velejando, o barco não pôde atracar em
terra firme por questões burocráticas. “Não tinha alternativa, então,
nadei.” Veley passou o primeiro aniversário do atentado de 11 de
Setembro entre o Afeganistão e o Turcomenistão, lugares mais
assustadores em que pisou. “Não voltaria a esses países.”
Mas foi ao se meter em uma expedição científica que o então milionário — que vivia de dinheiro rendendo no banco — bateu
seu recorde de países visitados. Para chegar à ilha de Bouvet, no
extremo sul do Atlântico, a 1.600 km da Antártida, ele pegou carona no
helicóptero de pesquisadores. A ilha é considerada um dos locais mais
isolados e inóspitos da terra. “Foi o clímax da minha vida de viajante.”
Mas a pergunta que não cala quando se depara com o homem que mais
rodou o globo é: qual o lugar mais bonito do mundo? A resposta: ilha de Lord Howe,
no mar da Tasmânia, a 600 km da Austrália. Pela beleza natural e
riqueza ecológica, é considerada patrimônio da humanidade pela Unesco.
Em segundo lugar, está a praia de Hanalei, na ilha Kauai, no Havaí.
Para Veley, as 7 maravilhas modernas são subestimadas e valem sim a
visita. Ele visitou várias, inclusive o Cristo Redentor, no Rio de
Janeiro. Veley fez 10 viagens para o Brasil e conheceu todos os nossos
estados e Fernando de Noronha. “É uma terra de muitos sorrisos, pessoas
bonitas e tempos felizes.” Sossegar? Talvez. “Eu poderia viver para
sempre em quase qualquer lugar. Especialmente em Hanalei, no Havaí.”
O problema é que, depois de 10 anos torrando a grana que ganhou com
sua empreitada de tecnologia, Veley teve que voltar à labuta.
Atualmente, suas principais viagens ficam entre São Francisco (casa) e
Washington (trabalho), já que ele voltou à empresa que havia abandonado.
Mas não desistiu de ser o primeiro homem a conhecer o mundo inteiro.
Irá aproveitar as férias para ver os 4% que ainda faltam do globo,
incluindo Bjornoya (ilhas da Noruega), Karakalpakstan (república
autônoma no Uzbequistão), Minami Torishima (sob a soberania do Japão,
mas integrada às ilhas Ogasawara) e a base naval da Baía de Guantánamo
(prisão norte-americana em Cuba). “Não sou mais milionário, mas ainda
sou jovem. Não tenho dúvidas de que vou alcançar qualquer objetivo de
viagem durante minha vida”, diz Veley. Um verdadeiro homem de metas.
Fonte: RevistaGalileu.globo.com
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