Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) -
Romário está decidido a se tornar a voz mais ativa dos críticos à
preparação do Brasil para a Copa do Mundo de 2014, e seu front inclui
desde a falta de vigor do governo nas negociações com a Fifa às
denúncias de irregularidade contra o presidente da CBF e do comitê
organizador, Ricardo Teixeira.
O ex-atacante e agora deputado federal teve frustrada este ano
uma tentativa de levar Teixeira ao Congresso para prestar
esclarecimentos sobre diferentes denúncias de corrupção, mas viu a
decisão da Polícia Federal de iniciar um inquérito contra o dirigente
como um "sinal verde" que pode melhorar o andamento dos preparativos.
De folga de suas atribuições em Brasília, Romário (PSB-RJ), de 45
anos, concedeu à Reuters no Rio de Janeiro uma entrevista descontraída,
mas recheada de declarações firmes, em seu prédio de frente para o mar
na Barra da Tijuca. Assim como nos tempos de jogador, Romário segue com a
pontaria afiada.
"Não é bater de frente, é falar o que alguns às vezes não têm
coragem de falar mas que é a pura verdade, a realidade, principalmente o
que a gente está passando em relação à Copa do Mundo. As coisas que
estão acontecendo alguém tem que se posicionar pelo menos o mínimo
contrário", disse o atacante que liderou o Brasil na conquista do título
mundial de 1994 e que deseja ter mais uma vez papel preponderante num
Mundial, desta vez fora dos campos.
Romário disse que já tentou marcar um encontro com a presidente
Dilma Rousseff para discutir a Copa do Mundo, mas que não foi possível
por um conflito de agendas. Segundo ele, o governo tem sido frouxo tanto
ao ceder a exigências da Fifa como na cobrança a Teixeira, que dirige o
futebol brasileiro desde 1989 e também é o presidente do comitê
organizador do Mundial.
"O governo tem que apertar, as coisas não são assim como ele
(Teixeira) diz", afirmou Romário. "Claro que a CBF é a maior entidade,
mas o futebol não tem dono... a Copa é do Brasil, do povo brasileiro."
Para o ex-jogador, Teixeira está prejudicando o andamento da
preparação brasileira por conta das denúncias e da falta de diálogo com o
governo.
"Acredito que se o governo tivesse cobrado mais do Ricardo
Teixeira alguns anos atrás, ele não daria a entrevista que deu à revista
Piauí faltando respeito com os três Poderes e principalmente com a
nossa presidenta", disse. Naquela entrevista, o presidente da
Confederação Brasileira de Futebol se coloca acima das autoridades do
país no que diz respeito ao Mundial.
"A gente tem que ser grato ao Ricardo Teixeira por ter trazido a
Copa para o Brasil. Parabéns, a gente agradece, ponto. Daqui para frente
é o Brasil", afirmou.
Na avaliação de Romário, a investigação da PF sobre o dirigente
esportivo a pedido do Ministério Público Federal por suspeita de lavagem
de dinheiro num suposto esquema de suborno envolvendo a Fifa pode abrir
caminho para mudanças importantes na organização da Copa.
Procurada pela Reuters, a CBF disse através do diretor de
comunicação Rodrigo Paiva que a entidade e Ricardo Teixeira não comentam
as acusações.
EXIGÊNCIAS DA FIFA
Romário também está inconformado com os termos exigidos pela
Fifa, em grande parte acatados pelo governo brasileiro na Lei Geral da
Copa, um conjunto de medidas cobradas pela federação internacional para a
realização do Mundial que vão desde a proteção de marcas de
patrocinadores ao direito de decidir os preços dos ingressos.
O projeto de lei enviado pelo governo está em estudo na Comissão
de Turismo e Desporto da Câmara, da qual Romário é vice-presidente.
Segundo o deputado, a lei não pode ser aprovada da forma atual, sem
garantir o direito de idosos e estudantes à meia-entrada e contrariando a
lei que proíbe a venda de bebidas alcoólicas em estádios, entre outros
temas polêmicos.
"Essa lei da Copa é bem simples. A Fifa entra aqui no Brasil,
leva um lucro de quatro bilhões (de dólares), não tem nenhuma
responsabilidade, e tudo de negativo que acontece cai no colo do
governo.
O que der de errado a culpa é do governo, e o que der de der
certo, a Fifa sai só com os benefícios. Não sei que contrato é esse."
O ex-jogador, que lidera um grupo de parlamentares que já
vistoriou 11 das 12 cidades-sedes do Mundial para inspecionar as obras,
voltou a apontar os aeroportos e a mobilidade urbana como os principais
problemas que o país terá com a infraestrutura e disse que apenas quatro
estádios estarão 100 por cento prontos para a Copa das Confederações de
2013. O governo tem prometido que 10 estádios estarão prontos no fim de
2012.
"Os outros podem até estar prontos, mas vai ser com aquela maquiagem e o jeitinho brasileiro que a gente conhece."
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